As Chaves Hermenêuticas: Aliancismo e Dispensacionalismo

Por Sitri Silas

Existem dois grandes tipos de chaves hermenêuticas: o aliancismo e o dispensacionalismo. Cada uma destas possui “divisões” internas dependendo da visão na relação entre Israel e Igreja. Isto é importante pois implica diretamente na eclesiologia, sacramentologia e escatologia. O aliancismo tende a “juntar” Israel e Igreja num mesmo ponto, já o dispensacionalismo separa ambos em algum nível (em ambos a maior junção ou separação depende da linha a ser adotada). Abaixo temos as chaves hermenêutica e um breve resumo de cada uma:

ALIANCISMO

Teologia do Pacto

Esta é a visão aderida pelos católicos romanos, ortodoxos, anglicanos e praticamente todas as igrejas reformadas (presbiterianos, luteranos, etc.). Nessa linha a chave para interpretar o relacionamento de Deus com os homens é feito através de Pactos (ou alianças). Deus fez dois pactos: um pacto de obras (adâmico), cuja desobediência levou a Queda, e o pacto da graça (Cristo), desse depreendem todos os pactos realizados com Israel (abraâmico, mosaico, davídico, etc) e o realizado com a Igreja, isso culmina na continuação entre Israel e Igreja (supercessionismo), ou seja, Israel é a Igreja no AT, e a Igreja é Israel no NT. Isso reflete na eclesiologia (igreja visível e invisível), sacramentologia (circuncisão = Batismo, páscoa = Ceia) e escatologia (as promessas de reino de Israel foram herdadas pela Igreja). Cabe destacar que muitos aderentes a Teologia do Pacto recusam a ideia de um “Pacto de Obras”, afirmando que todos os pactos são da Graça (inclusive o adâmico).

Federalismo Batista

Também chamado de aliancismo batista ou teologia pactual batista. Geralmente é aderido por batistas que confessam a Confissão de Fé Batista de 1689, amplamente os batistas monergistas. Nesse há diferenças em relação a anterior. A primeira é a existência de um Pacto de Redenção, que é superior e engloba o Pacto das Obras e o da Graça. Também não crê numa sucessão e numa unidade entre os pactos dentro do Pacto da Graça, sendo que cada um tem suas particularidades (abraâmico, mosaico, davídico, etc.). Logo os aderentes desta hermenêutica não veem uma continuidade entre Israel e Igreja tão grande quanto os da Teologia do Pacto, tendo a visão do intersecionismo (substituição de Israel e Igreja). Isso muda, por exemplo, a sacramentologia (batismo não é a circuncisão, páscoa não é a ceia).

Teologia da Nova Aliança (TNA)

Parecida com as anteriores. Porém não trabalha com “pactos” e sim focada em duas “alianças” mosaica e em Cristo. É antinomiana (rejeita completamente a Lei de Deus no AT) e afirma que não somente o povo foi substituído como tudo foi substituído do antigo pacto. Devido ao antinomismo não é bem vista nos círculos reformados ortodoxos (aliancistas), e nem pelos dispensacionalistas, que não são aderentes da teologia da substituição. É a mais nova e menos desenvolvida entre as hermenêuticas.

DISPENSACIONALISMO

Dispensacionalismo clássico (ou tradicional)

É a linha mais conhecida dos dispensacionalismo, porém é a menos defendida atualmente entre os eruditos dispensacionalistas. Como todo sistema dispensacionalista, trabalha com “dispensações” (formas “administrativas”) de Deus com a humanidade, sendo no total 7 dessas formas (Inocência, Consciência, Governo Humano, Promessa, Lei, Graça e Milênio). Também possui uma forte separação entre Israel e Igreja, sendo que todas as promessas feitas a Israel serão cumpridas, e nenhuma destas se aplica a Igreja, sendo esta, apenas um parênteses na história de Deus com Israel. Sendo que a separação entre os dois povos é tão forte que quem faz parte de Israel no fim dos tempos (remanescente fiel) não faz parte da Igreja e vice-versa. O reino de Cristo prometido a Israel (trono davídico) foi totalmente adiado por causa da rejeição de Israel ao Messias.

Dispensacionalismo revisado

Também chamado de dispensacionalismo normativo. É a segunda leva de dispensacionalistas. Se diferencia por trabalhar com menos dispensações (geralmente 4 a 6) e por ver mais continuidade entre Israel e Igreja, embora ainda há bastante divisão entre ambos. Os programas de Deus para Israel e Igreja são convergentes, sendo que no fim de tudo serão na verdade um só. Mesmo assim ainda advoga a Igreja como parênteses divino no programa com Israel. O reino de Cristo no trono davídico foi adiado.

Dispensacionalismo integrativo

É a linha menos conhecida do dispensacionalismo. Geralmente se põe entre o revisado e o progressivo. Faz distinção entre Israel e a Igreja, porém, vê Israel como o ponto de integração de Deus com o homem, Israel passa a ser o povo mediador do plano de Deus com a humanidade. Assevera que Cristo ainda não está no trono davídico, mas mesmo assim parte do reino foi cumprido na Primeira Vinda, sendo que o restante será consumado na Segunda Vinda e assim cumprir as promessas de Deus para humanidade através de Israel.

Dispensacionalismo progressivo

Este é o mais novo tipo de dispensacionalismo, tenta harmonizar pontos do aliancismo com pontos do dispensacionalismo. Nesta chave hermenêutica Israel e Igreja são um só, mas Deus não abandonou Israel ou a Igreja substituiu/sucedeu inteiramente a Israel, apenas foi passada a Igreja a missão de Israel, até que Israel se arrependa e se volte para Deus a fim de que Deus salve o remanescente fiel israelita e coloque Israel de volta no seu devido lugar. Para o dispensacionalismo progressivo Cristo já está no trono de Davi, mas ainda não reina completamente, a implantação do reino é progressiva.

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