Por Daniel Ferro em Introdução à Apologética Reformada, p. 42.
Aqui temos um problema enorme de interpretação da parte de muitos. Muitos dizem que o ponto de partida para a contagem das 70 semanas de Daniel foi o decreto de Ciro, porém, esta é uma interpretação mais do que equivocada. Olhemos para as Escrituras, elas nos dizem:
“Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus dos céus me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá.
Quem há entre vós, de todo o seu povo, seja seu Deus com ele, e suba a Jerusalém, que está em Judá, e edifique a casa do Senhor Deus de Israel (ele é o Deus) que está em Jerusalém.
E todo aquele que ficar atrás em algum lugar em que andar peregrinando, os homens do seu lugar o ajudarão com prata, com ouro, com bens, e com gados, além das dádivas voluntárias para a casa de Deus, que está em Jerusalém. ”
Confiramos com o que diz em IICrônicas 36:22-23. Não há decreto algum estabelecido no ano 538 a.C. Assim sendo, descartamos esta possibilidade. Muitos tentarão argumentar com a profecia de Isaías, e de fato, Isaías fala sobre Deus chamando Ciro para a edificação de Jerusalém e fundação do templo , e de fato, Deus o chamou sim. Contudo, o chamado de Deus a Ciro para isto não implica na ordem dada por ele para reedificar Jerusalém, e sim na preparação para que esta ordem seja dada. A confirmação disto nós vemos em IICrônicas 36:22,23. Não há nenhum decreto especificando a reconstrução de Jerusalém. Apenas o que houve foi um decreto permitindo que aquele que é de todo o seu povo, que subisse para edificar uma casa em Jerusalém e o Senhor fosse com ele.
Dezessete anos após o decreto de Ciro, nos tempos de Dario, ainda não há templo algum reedificado. Está tudo destruído ainda, e a reconstrução não começou de forma decisiva. Essa reconstrução só teve procedência com a constante influência e trabalho dos profetas Ageu e Zacarias . Conforme cresceu-se as reclamações dos povos inimigos dos judeus, o governador fizera a inspeção na reconstrução do templo, o que resultou num segundo decreto – confirmação do decreto de Ciro – que do mesmo modo, não incluía a reconstrução de Jerusalém. Somente do templo. Em Daniel, a profecia está muito bem especificada: “saída da ordem para restaurar e reedificar Jerusalém. ” Sendo assim, a confirmação do decreto de Ciro também não marca o início das 70 semanas. Tanto é que o Senhor mesmo dá a Zacarias outra profecia sobre a edificação de Jerusalém.
A estrutura do templo foi finalmente terminada em 515 a.C., no sexto ano do reinado de Dario . Para que muitos não se confundam em relação a Esdras 6:14 – que diz que o templo foi reconstruído no segundo decreto de Ciro, emitido por Dario. Porém, inclui na participação da construção o nome de Artaxerxes I, que não havia ainda assumido o reinado – é preciso entender que os presentes que Artaxerxes I creditou ao templo foram tão preciosos e importantes, que ele foi considerado participante na reconstrução do templo, ainda que não fosse rei e tivesse decretado algo . Ainda assim, a cidade não fora reconstruída. Então, as semanas ainda não haviam começado.
Em 457 a.C., precisamente, houve um terceiro decreto , quando o rei Artaxerxes I decretou que os judeus voltassem a Jerusalém com presentes, ordenando a Esdras que investigasse a condição espiritual do povo, a isenção de impostos aos servos do templo e reorganizar o sistema judicial e civil sobre Judá. Ainda assim, não há nada a respeito da reconstrução da cidade de Jerusalém (embora as permissões e exigências do decreto dessem a entender que isto já era possível). Contudo, o templo já estava construído, ele fora terminado em março de 515 a.C.
Em Esdras 4 temos a primeira declaração real da reconstrução da cidade de Jerusalém. E visto que Esdras 4 não é contado provavelmente numa ordem cronológica. Esdras escreveu esse relato um século após Ciro ter permitido o retorno dos judeus para edificar o templo. Segundo Esdras 4:12 – “Saiba o rei que os judeus, que subiram de ti, vieram a nós em Jerusalém, e reedificam aquela rebelde e malvada cidade, e vão restaurando os seus muros, e reparando os seus fundamentos. ” – Esta é a primeira menção real à reconstrução da cidade. Muitos pensam que o início das 70 semanas se deu em 444 a.C., com a permissão dada a Neemias para reconstruir o muro, porém, o quarto decreto não tem relação alguma com a reconstrução de Jerusalém, mas a reedificação dos muros apenas. Voltando ao terceiro decreto, o caráter deste era secreto, e, portanto, a reconstrução da cidade não estaria explicitamente evidenciada nele. Ainda assim, quando lemos o relato de Esdras 4:12, este se relaciona de muitas formas com Esdras 7 (onde é narrado o terceiro decreto do rei). Visto que este decreto tem a datação de 457 a.C., e o contexto de Esdras 4:12 se passa em 457 a.C., podemos concluir que o terceiro decreto, implicitamente, foi o terminus a quo .
Sigamos, portanto, as informações que Deus nos deu nesta profecia. Cada semana são sete anos sabáticos. Assim, sete semanas, e sessenta e duas semanas (69 semanas) dão 483 anos. Contando a partir do ano 457 a.C., com os 483 anos, nos aproximamos de 27 d.C., na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém narrada em Zacarias 9:9.
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